Pular para o conteúdo principal

Eparrêi, minha mãe Iansã!!!

O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).
Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.
A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.
Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as actividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.
Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam.
São pessoas atiradas, extrovertidas e directas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.
 Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu gênio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos; aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação.
O seu comportamento pode ser explosivo como uma tempestade, ou calmo como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.

Comentários

  1. Olá Quase-inimigo-agora-amigo Luciano! Passei para deixar um alô e dizer que gostei do seu blog. Coincidentemente sou protegida de Iansã, dizem... adoro essas coisas de raios, trovões e tempestades que metem medo nas pessoas quando falo de Iansã... prazer em conhecê-lo via foto e não somente pelas palavras... Katia H.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Preta, Clarinha

(Um dos contos de "Bandeira branca, sinal vermelho")                 Clarinha não percebeu quando a amiga voltou de mais uma investida mal sucedida a um motorista sozinho num carro parado naquele cruzamento da Avenida Atlântica. Apesar de cotidiana, a frustração não doía menos com o passar do tempo (“ será que hoje alguém vai me amar? ”). Era nesses momentos que Mellanie, nascida João Roberto, demonstrava sua fragilidade: gargalhando alheia à bigorna que lhe crescia no peito, xingando o motorista a plenos pulmões, ou, o mais frequente no fim das madrugadas, baixando a cabeça, sentando no meio-fio e chorando em silêncio.                Clarinha nem viu a amiga se enroscar a seus pés, humilhada como um cão. Estava atônita com outro quadro. A poucos metros, amontoadas na calçada, três pessoas dormiam: um homem, uma mulher e uma criança pequena. Aparentemente uma família....

Iron and stones, flesh and bones

To be or not to be: that´s the question. Hamlet (William Shakespeare) Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. Carlos Drummond de Andrade Só ontem pude assistir ao fantástico filme “A dama de ferro” (“The iron Lady”), de Phyllida Lloyd (2011). Não sou um especialista em cinema, nem mesmo chego a ser cinéfilo, apenas gosto de um bom filme. E uma coisa naquele me fez querer pensar: a extraordinária humanidade que a atriz Meryl Streep deu a Margaret Tatcher, a personagem principal. O olhar cambaleante, senil e débil da Margaret de Streep torna evidente, para o observador um pouco mais atento, o rastro cada vez menos firme de uma Tatcher a que Meryl também soube dar o devido peso.  Que não era pouco. Devia ser muito difícil para a ex-chanceler britânica estar naquele lugar. Só mesmo sendo de ferro, eu acho. E com o coração de pedra. Sim; é a combinação perfeita...

Recadinho do andar de cima

Peço perdão antecipadamente àqueles que por acaso se sentirem agredidos ou nauseados com o apelo relativamente escatológico do meu argumento. Vou tentar compensar isso com uma também relativa formalidade linguístico-textual, um certo rebuscamento que, longe de ser índice de pedantismo, só pretende mesmo despistar um pouco os mais preguiçosos e/ou menos inteligentes. Feito esse introito pouco convencional, mas muito útil aos meus propósitos argumentativos, digo a que venho: falar de novo da polêmica chata e anacrônica (no sentido convencional, não naquele que a filosofia contemporânea emprestou ao termo) em torno do tema da homossexualidade, controvérsia hipertrofiada no Brasil das últimas horas por conta do beijo de Félix e Nico no capítulo final da novela “Amor à vida”, da Rede Globo. Eu poderia falar da miopia daqueles que, colocando em foco apenas o beijo entre aqueles dois personagens, se esquecem, por exemplo, do momento (isso mesmo: não foi um “ happy end ”, foi apenas um...