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Mostrando postagens de 2015

Mal querer

A boca que vejo não me beija se só bem me quer. Querer bem é bem pouco prum bom beijo  - louco... (logo logo longo licorino lustro latejante) Querer bem é bem pouco. Prum bom beijo é preciso um quê de mal querer: de mal querer esperar, mal querer entender, mal querer resistir, mal querer convencer do óbvio: que não tem mal na gente só querer.

"Fazer amor"... "ou não".

                  "Fazer amor" só faz realmente sentido em manhãs chuvosas e mais ou menos frias de domingo.        É claro que é possível e (com alguma sorte) muito bom manter relações sexuais, transar em quaisquer outros dias e horários. Não nego, em absoluto, as delícias que noites quentes e convulsas de sextas ou sábados podem reservar, nem o êxtase instantâneo que um corre-corre em horário comercial é capaz de promover - sobretudo se no intervalo do almoço de uma segunda-feira armagedônica, por exemplo. Não nego o potencial desses prazeres, repito. Mas afirmo: momentos assim não se comparam ao "fazer amor". "Fazer amor" só é literalmente possível na moldura de uma manhã chuvosa e temperada de domingo, quando dia e noite se aconchegam em finos lençóis de névoa úmida e fria, e até a luz do sol reluta em se apartar das ventosas felpudas da penumbra, tímida.         Nessas manhãs perfeitas para o amor ser feito, frio e chuva não são intensos. A

"PRIMEIRO MUNDO" é outro papo

                          Eu, Luciano Nascimento, sou heterossexual. E, embora eu não seja rico, seria cinismo de minha parte dizer que sou pobre. Portanto, da discriminação de gênero e da econômica estou mais ou menos livre. Mais ou menos porque, claro, eu ainda sou um fodido perto da maior parte da galerinha que frequenta Jóquei Clube em dia de Grande Prêmio Brasil de Turfe, por exemplo. Por outro lado, sou preto, baixo, tô ostentando uma barriguinha (que vive querendo deixar de ser diminutiva), uso óculos, não curto esporte nenhum, bebo um pouco e eventualmente fumo charuto. Ah!, importante: ou sulamericano. Por que esse inventário meio aleatório? Porque, exatamente como todo mundo, eu ser ou não ser vítima de preconceito e discriminação é algo que não depende de mim, mas, sim, de quem me olha. É quem me olha que me aponta “defeitos”; defeitos que estão na visão dele ou dela, claro! Repito: não há nada de errado (nem de necessariamente certo) em mim; o problema está no valor que

Agora é José!

A festa acabou: o escravo não veio a mucama não veio o palhaço não veio o silêncio gritou o crioulo falou a bola furou o circo partiu o pão velho mofou o antigo bolo – a crescer e então ser dividido – solou e tudo parou e tudo ruiu e tudo mudou! Agora é José! Nem se você gritasse? Nem se você gemesse? Nem se você tocasse a valsa vienense? Não. Agora é José! José que tem dente José que não mente José que é gente que sente, potente, que é inteligente e afinal entende o papel de mané indigente antes pregado à sua testa: não lhe presta, não lhe rende, só o vende barato. Chega! Agora é José! José orgulhoso José altivo José só de si cativo cioso e redivivo Moto-contínuo progresso impresso no rosto liso, sereno ou teso de todo e cada ex-qualquer-um que hoje bate no peito e diz: Agora é José!

Entre sem bater

Sou um professor. Sobretudo – mas não só – por isso, eu também me sinto violentado pelo governo paranaense. Violentado, reajo. Sou de Letras; não tenho formação acadêmica em Ciências Sociais, ou em Ciência Política, nem em História... Mas sempre tive muitos bons professores, tanto nos colégios por que passei, quanto nas várias instituições de ensino superior de que fui aluno. Além disso, já há alguns anos posso dizer, sem medo, que tenho a amizade e a consideração de alguns dos melhores professores (pesquisadores e/ou profissionais da Educação em geral, enfim) do país, espalhados por instituições como CPII, CMRJ, CEFET, Uerj, UFF, UFRJ, UFSC, UFFS, UFG, UFSM, UFMG, UFU, PUC-Rio, entre outras. Arrisco-me a afirmar, também sem medo, que esta minha reação – que, em grande medida, só é possível graças ao que aprendi com esses amigos – traz em si coisas com as quais eles concordarão. Sou alguém a quem ensinaram a ler. “Ler” numa acepção que vai muito além da decodificação dos sin