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Mostrando postagens de 2012

Se me dizes "Ancas!"

Ancorei minhas esperanças na espera de tuas ancas. Cá estou. Dispenso carinhos supérfluos - nada de vênias, pelúcias, danças... -: só beijo, molejo e arquejo. Tudo sanguineamente ritmado por tuas ancas. Pois é nelas que começo meu mergulho rumo ao meio de tuas coxas grossas. Longe delas só há erro; só no seu úmido submundo se é rei. Se errei? Sin. Mas foi só por sabor seu saber. E por só no fundo super-úmido de tua platônica caver n a eu querer ser sombra (se não, sou sobra, resto irreal). Então cessa logo essa nossa espera, ou me desancas... Mas, se me dizes "Ancas!", me tens reto e direto, concreto. E vou.

Ah!, se o Freyre visse...

   Eu já sabia!           Antes de dizer o que “eu já sabia!”, lembro que nada aqui (no MEU blog) tem compromisso com essa coisa sobre-humana comumente chamada A verdade . Coisa que, aliás, ninguém conseguiu provar que existe. Escrevo apenas a Minha verdade, e já está de muito bom tamanho. Se você está lendo isto, é porque quer, mesmo que tenha sido convidado. Logo, se não ficar satisfeito, feche a aba, coma brioches.             Mas, como eu ia dizendo, eu já sabia!           Faz tempo que percebi: toda quinta-feira, mais ou menos ao meio dia, acontece, no saguão aberto do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma roda de capoeira. No mesmo espaço também acontece um encontro de religiosos (aparentemente alunos evangélicos). Os dois grupos normalmente se reúnem um ao lado do outro, no mesmo espaço, e no mesmo horário.             Sempre achei suspeito o tom harmonioso daquela convivência; hoje a casa caiu .        Q

No meio do caminho

De alto de sua insensível soberba surge o poeta. Surge o poeta de sua insensível soberba. Do alto. O poeta insensível surge de sua soberba. Alto. Surge e vai. Eu fico.

Folha seca

Dia desses, plena terça-feira, cansado do corre-corre cotidiano, resolvi atravessar a rua e parar. A rua, neste caso, era uma rodovia bastante movimentada, uma das mais do país, a BR 101, a poucos metros da minha casa. Há poucas semanas ouvi falarem da revitalização daquela região, que, durante muito tempo fora só o pedaço de terra que o asfalto da estrada não cobrira, depois passou a ser só o lado de lá da estrada, depois a favela que tinha na frente do shopping novo construído do lado de cá da estrada. Moro do lado de cá. Sou vizinho do shopping. Um emergente...          O lado de lá já teve seus tempos de glória. Era freqüentado por artistas e tudo. Gente de nome. Já ouvi até sobre um cação que viveu na década de sessenta nas águas dessa prainha do final da Baía da Guanabara e vez ou outra se alimentava dos pescadores da região, que estavam aterrando o manguezal ali existente, até que um desses homens, mais forte, mais corajoso, ou só mais maluco mesmo, acabou se atracan

CARNAVAL, ou POEMA DAS SETE CARAS

Calma. É a quinta escola a desfilar, dá tempo. Lado ímpar, perto do “Balança-mas-não-cai”. Engraçado o nome do edifício. Sugestivo. Fica na Av. Presidente Vargas. Pega o metrô na Tijuca, desce na Central do Brasil... Cuidado com a carteira, Antônio! Não vai se distrair, hein! Olha a responsabilidade. Segue a multidão. Multidão??? Multidão. Será que vale a pena? Pela TV sempre foi tão bom, tão tranquilo. A almofada de travesseiro já nem deixa mais sentir aquela mola solta do sofá gasto no lugar cativo. Gasto, mas que ainda dá um caldo. Essa sua mania de TV... Foi ela, a maldita mídia que colocou na sua cabeça essa ideia maluca de desfilar em escola de samba. Isso é coisa de maluco. Melhor voltar pra casa, vai. Lá vem o metrô. Será que está cheio? Já está cheio. Antônio, o celular tem que ficar no bolso da frente! Todo mundo sabe que o celular deve ficar na bolsa ou no bolso da frente, Antônio! Sai da porta! A fantasia de malandro veio a calhar, a calça tem bolsos.  Segura aí! Es

Iron and stones, flesh and bones

To be or not to be: that´s the question. Hamlet (William Shakespeare) Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. Carlos Drummond de Andrade Só ontem pude assistir ao fantástico filme “A dama de ferro” (“The iron Lady”), de Phyllida Lloyd (2011). Não sou um especialista em cinema, nem mesmo chego a ser cinéfilo, apenas gosto de um bom filme. E uma coisa naquele me fez querer pensar: a extraordinária humanidade que a atriz Meryl Streep deu a Margaret Tatcher, a personagem principal. O olhar cambaleante, senil e débil da Margaret de Streep torna evidente, para o observador um pouco mais atento, o rastro cada vez menos firme de uma Tatcher a que Meryl também soube dar o devido peso.  Que não era pouco. Devia ser muito difícil para a ex-chanceler britânica estar naquele lugar. Só mesmo sendo de ferro, eu acho. E com o coração de pedra. Sim; é a combinação perfeita par

A herança rítmica do intérprete

O título deste texto é uma quase-paráfrase do que dei a um outro, científico, publicado recentemente pela Revista Boitatá (do Grupo de Trabalho de Literatura Oral e Popular da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística – ANPOLL - disponível em < http://www.uel.br/revistas/boitata/volume-12-2011/B1214.pdf >). Naquele,  bem como em outros textos oriundos da pesquisa de doutoramento que desenvolvo atualmente,  assumi o risco de relacionar a voz dos intérpretes de sambas-enredo das escolas de samba do Rio de  Janeiro a uma herança mítica que os eleva à condição de poderosos heróis sobre-humanos, de  semideuses, como Orpheu e Íon – ambos filhos de Apolo, o deus da Arte na mitologia grega. O fio  condutor para desenvolver esse argumento foi a observação dos “gritos de guerra” desses cantores à  frente de suas escolas num momento crucial do desfile oficial. Naquele instante, o cantor está com  o microfone nas mãos e absolutamente só