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Mostrando postagens de maio, 2012

Folha seca

Dia desses, plena terça-feira, cansado do corre-corre cotidiano, resolvi atravessar a rua e parar. A rua, neste caso, era uma rodovia bastante movimentada, uma das mais do país, a BR 101, a poucos metros da minha casa. Há poucas semanas ouvi falarem da revitalização daquela região, que, durante muito tempo fora só o pedaço de terra que o asfalto da estrada não cobrira, depois passou a ser só o lado de lá da estrada, depois a favela que tinha na frente do shopping novo construído do lado de cá da estrada. Moro do lado de cá. Sou vizinho do shopping. Um emergente...          O lado de lá já teve seus tempos de glória. Era freqüentado por artistas e tudo. Gente de nome. Já ouvi até sobre um cação que viveu na década de sessenta nas águas dessa prainha do final da Baía da Guanabara e vez ou outra se alimentava dos pescadores da região, que estavam aterrando o manguezal ali existente, até que um desses homens, mais forte, mais corajoso, ou só mais maluco mesmo, acabou se atracan

CARNAVAL, ou POEMA DAS SETE CARAS

Calma. É a quinta escola a desfilar, dá tempo. Lado ímpar, perto do “Balança-mas-não-cai”. Engraçado o nome do edifício. Sugestivo. Fica na Av. Presidente Vargas. Pega o metrô na Tijuca, desce na Central do Brasil... Cuidado com a carteira, Antônio! Não vai se distrair, hein! Olha a responsabilidade. Segue a multidão. Multidão??? Multidão. Será que vale a pena? Pela TV sempre foi tão bom, tão tranquilo. A almofada de travesseiro já nem deixa mais sentir aquela mola solta do sofá gasto no lugar cativo. Gasto, mas que ainda dá um caldo. Essa sua mania de TV... Foi ela, a maldita mídia que colocou na sua cabeça essa ideia maluca de desfilar em escola de samba. Isso é coisa de maluco. Melhor voltar pra casa, vai. Lá vem o metrô. Será que está cheio? Já está cheio. Antônio, o celular tem que ficar no bolso da frente! Todo mundo sabe que o celular deve ficar na bolsa ou no bolso da frente, Antônio! Sai da porta! A fantasia de malandro veio a calhar, a calça tem bolsos.  Segura aí! Es

Iron and stones, flesh and bones

To be or not to be: that´s the question. Hamlet (William Shakespeare) Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. Carlos Drummond de Andrade Só ontem pude assistir ao fantástico filme “A dama de ferro” (“The iron Lady”), de Phyllida Lloyd (2011). Não sou um especialista em cinema, nem mesmo chego a ser cinéfilo, apenas gosto de um bom filme. E uma coisa naquele me fez querer pensar: a extraordinária humanidade que a atriz Meryl Streep deu a Margaret Tatcher, a personagem principal. O olhar cambaleante, senil e débil da Margaret de Streep torna evidente, para o observador um pouco mais atento, o rastro cada vez menos firme de uma Tatcher a que Meryl também soube dar o devido peso.  Que não era pouco. Devia ser muito difícil para a ex-chanceler britânica estar naquele lugar. Só mesmo sendo de ferro, eu acho. E com o coração de pedra. Sim; é a combinação perfeita par