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Mostrando postagens de 2017

"Estrelas na terra", monólitos no ar

Já com muito atraso assisti, há poucos dias, “ Como estrelas na terra ” ( do original : Taare Zameen Par . Direção: Aamir Khan. Índia: 2007, 2h 55min.),  na íntegra aqui .  É  um filme essencial. Essencial para o desenvolvimento da Humanidade em todas as pessoas; mas, sobretudo, para a formação de profissionais da Educação. No momento atual de nosso país, ainda mais. Porque só será capaz de “ver e ouvir” “estrelas na terra” quem entender que a Educação não pode continuar a ser um improvável monólito no ar. E é exatamente isso que ela tem sido há séculos; no Brasil, pelo menos. A história do encontro do menino Ishaan Awasthi com Nikumbh, seu professor de artes, seria apenas mais uma narrativa comovente de dificuldades superadas com esforço e boa vontade se não fosse um traço bastante peculiar: a despeito das aparências, nenhum dos dois é, na realidade, o protagonista da trama. Nela, o personagem principal é o próprio processo ensino-aprendizagem, seus pontos cegos, suas escarpas

João e Maria

João sempre foi um bom menino, não deu o menor trabalho aos pais: era educado, gentil, ajudava a cuidar dos irmãos mais novos, ia razoavelmente bem na escola... Chegou aos 17 anos sem nunca ter experimentado álcool, fumo ou qualquer outra droga; também não tinha experimentado ainda a paixão. O primeiro emprego de João foi de balconista na mesma padaria onde ele trabalha até hoje, ainda como balconista, aguardando a aposentadoria (que viria rápido, só faltavam 10 anos, agora ele não sabe como será...). João não bebe, não fuma, nunca usou qualquer outra droga. Nunca se apaixonou. Nunca teve tempo pra essas bobagens.                 Maria é uma boa mulher: boa esposa, boa mãe, boa filha, boa funcionária... Todo mundo gosta muito dela e tem sempre alguém repetindo: “Maria?! Que pessoa boa”! Desde que os meninos, um casal de gêmeos, entraram no colégio, ela acorda todo dia às 4:30h para ter tempo de, antes de sair pra pegar o ônibus das 05: 30h, preparar o café da manhã pro marido e

"BANDEIRA BRANCA, SINAL VERMELHO"

Meu primeiro livro, "Bandeira branca, sinal vermelho", já está disponível em < Clube de autores >.  É uma antologia de contos curtos, tratando de questões relacionadas às identidades. Leia!

Preta, Clarinha

(Um dos contos de "Bandeira branca, sinal vermelho")                 Clarinha não percebeu quando a amiga voltou de mais uma investida mal sucedida a um motorista sozinho num carro parado naquele cruzamento da Avenida Atlântica. Apesar de cotidiana, a frustração não doía menos com o passar do tempo (“ será que hoje alguém vai me amar? ”). Era nesses momentos que Mellanie, nascida João Roberto, demonstrava sua fragilidade: gargalhando alheia à bigorna que lhe crescia no peito, xingando o motorista a plenos pulmões, ou, o mais frequente no fim das madrugadas, baixando a cabeça, sentando no meio-fio e chorando em silêncio.                Clarinha nem viu a amiga se enroscar a seus pés, humilhada como um cão. Estava atônita com outro quadro. A poucos metros, amontoadas na calçada, três pessoas dormiam: um homem, uma mulher e uma criança pequena. Aparentemente uma família. Certamente uma família, porque o quadro era bem mais do que apenas familiar. A moça via ali, deitados n

Sobre a GREVE GERAL de 28/04/2017

“Sou funcionário público concursado, não dependo da CLT, não dependo da Previdência Social, essas reformas não me atingem. Essa greve não é um problema meu.” Ok. Qualquer servidor público poderia pensar desse jeito. Em tese. E só em tese. Porque, na prática, os servidores do Estado do Rio de Janeiro infelizmente já estão vendo que não é bem assim: salários atrasados, direitos desrespeitados, instituições sucateadas e à beira da extinção, insegurança total. Na prática, as DEformas propostas pelo DESgoverno federal atingem a todos nós. Por isso essa greve é, sim, um problema de todos nós. Um “problema” não: uma CAUSA. Porque, sem dúvida, o ataque à CLT atingirá a milhões de trabalhadores que, hoje em dia, lutam com cada vez mais dificuldade por uma vida digna. Porque, ainda sem nenhuma dúvida, o ataque à CLT massacrará milhões de desempregados que, hoje em dia, fariam qualquer coisa, se submeteriam às condições de trabalho mais adversas, inclusive as análogas à escravi

BANDEIRA BRANCA

Bandeira branca! Queremos paz! Chega de feminismos! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! Desde sempre existiram apenas dois sexos: o masculino e o feminino. Desde sempre couberam aos machos as duras tarefas da caça e da preservação da espécie por meio da disseminação do sêmen; às fêmeas sempre coube o nobre papel de protetoras das crias e cuidadoras dos lares. Cada um com seu cada qual! Não é o suficiente?!?! Sim, é fato que durante o último carnaval, só no Rio de Janeiro (cenário do “maior espetáculo da Terra”), uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Também parece fato que o atual presidente da “maior potência do planeta” assumiu ter insistido no “sim” quando mulheres lhe tinham dito “não”. Mas são casos isolados. Ou melhor: a violência é um traço do caráter humano; não há nela nada de específico contra as mulheres! Bandeira branca! Queremos paz! Chega de ativismo LGBT! Basta de querer reformar o mundo, i