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"BANDEIRA BRANCA, SINAL VERMELHO"





Meu primeiro livro, "Bandeira branca, sinal vermelho", já está disponível em <Clube de autores>. É uma antologia de contos curtos, tratando de questões relacionadas às identidades.
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Preta, Clarinha

(Um dos contos de "Bandeira branca, sinal vermelho")                 Clarinha não percebeu quando a amiga voltou de mais uma investida mal sucedida a um motorista sozinho num carro parado naquele cruzamento da Avenida Atlântica. Apesar de cotidiana, a frustração não doía menos com o passar do tempo (“ será que hoje alguém vai me amar? ”). Era nesses momentos que Mellanie, nascida João Roberto, demonstrava sua fragilidade: gargalhando alheia à bigorna que lhe crescia no peito, xingando o motorista a plenos pulmões, ou, o mais frequente no fim das madrugadas, baixando a cabeça, sentando no meio-fio e chorando em silêncio.                Clarinha nem viu a amiga se enroscar a seus pés, humilhada como um cão. Estava atônita com outro quadro. A poucos metros, amontoadas na calçada, três pessoas dormiam: um homem, uma mulher e uma criança pequena. Aparentemente uma família....

Sem intimidação

Sou aluno da Unicarioca ( campus Rio Comprido). É desse lugar que quero me manifestar sobre as ofensas racistas recém publicadas na internet, sob anonimato, direcionadas à instituição e a um grupo específico de seus alunos, grupo no qual me incluo. O anonimato, aliás, é prática comum entre os covardes – esses, sim, justo motivo para nojo. Preciso, portanto, me apresentar.                 Meu nome é Luciano Carvalho do Nascimento. Eu sou negro, de origem pobre. Sou doutor em Literaturas (UFSC), mestre em Língua Portuguesa (UFRJ) e especialista em Leitura e Produção de Textos (UFF). Há onze anos sou professor da rede pública federal de Ensino Básico, com passagem em pelo menos duas instituições de ensino das mais respeitadas no país. Além de produção acadêmico-científica condizente com minha titulação e atuação, tenho ainda boa experiência em coordenação de projetos sociais ligados à educação de populações em s...

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Me arrisco a dizer que a maioria das salas de professores no Brasil sempre se dividiu de maneira clara e não equânime em dois grupos distintos de profissionais: os tristes e os utópicos. De tempos em tempos a quantidade de integrantes em cada um desses grupos se alterna significativamente, num processo às vezes lento, outras vezes, nem tanto. Os tristes eram aqueles que, a despeito da idade, já tinham se deixado abater por algumas dificuldades inerentes à docência: a relativamente comum falta de interesse de alguns alunos, a constante correria entre uma escola e outra, a exaustão gerada por um trabalho que não se deixa para trás e que nunca termina... Negligenciados, todos esses fatores levam de fato qualquer um à fadiga; associados a salários injustos (quando não humilhantes), esses mesmos fatores com facilidade conduzem o profissional a um estado bastante compreensível de tristeza constante e até de certo rancor. Como espécie de antídoto à melancolia dos tristes, sempre...