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Sobre a GREVE GERAL de 28/04/2017




“Sou funcionário público concursado, não dependo da CLT, não dependo da Previdência Social, essas reformas não me atingem. Essa greve não é um problema meu.”

Ok. Qualquer servidor público poderia pensar desse jeito. Em tese. E só em tese. Porque, na prática, os servidores do Estado do Rio de Janeiro infelizmente já estão vendo que não é bem assim: salários atrasados, direitos desrespeitados, instituições sucateadas e à beira da extinção, insegurança total.

Na prática, as DEformas propostas pelo DESgoverno federal atingem a todos nós. Por isso essa greve é, sim, um problema de todos nós. Um “problema” não: uma CAUSA.

Porque, sem dúvida, o ataque à CLT atingirá a milhões de trabalhadores que, hoje em dia, lutam com cada vez mais dificuldade por uma vida digna. Porque, ainda sem nenhuma dúvida, o ataque à CLT massacrará milhões de desempregados que, hoje em dia, fariam qualquer coisa, se submeteriam às condições de trabalho mais adversas, inclusive as análogas à escravidão, para ter um emprego e tentar dar um pouco mais de dignidade às suas famílias. Porque, inescapável e desgraçadamente, se perpetrada, a mutilação da CLT vai, num futuro não muito distante, impor a nossos filhos e netos condições de trabalho muito parecidas com as que se viam no final do século XIX em alguns países da Europa, ou, pior, no começo do XX na maior parte da América Latina. O ataque à CLT é, sim, um problema de todos nós, porque vai tornar a vida de todos nós muito pior, com mais sacrifício de todos, mais pobreza, mais violência urbana...

Na prática, as DEformas propostas pelo DESgoverno federal atingem a todos nós. Essa greve é, sim, um problema de todos nós. Um “problema” não: uma CAUSA.

Porque, sem dúvida, as mudanças propostas para o regime previdenciário social, se aprovadas, gerarão um verdadeiro “apocalipse zumbi”: milhões e milhões e milhões de pessoas desesperadas por se manterem trabalhando (sob quaisquer circunstâncias, já vimos), a fim de não haver pausa na contagem do “interminável tempo de serviço”; uma multidão, em poucos anos igual à população de vários países do mundo, chegará à velhice doente e escrava de subempregos, tudo em nome do sonho cada vez mais irrealizável da aposentadoria integral. Nossos filhos e netos, ora diretamente afetados pelas mutações da moribunda CLT, tampouco poderão, como nós, ter a relativa tranquilidade de cargos públicos, porque a política das terceirizações e a lógica do “Estado mínimo” vão tornar os concursos cada vez mais raros.

Na prática, as DEformas propostas pelo DESgoverno federal atingem a todos nós. Essa greve é, sim, um problema de todos nós. Um “problema” não: uma CAUSA.

Porque, a despeito de diferenças ideológicas e partidárias, nenhum trabalhador brasileiro quer ter que trabalhar ainda mais e, ainda assim, ver ao Brasil e a si mesmo cada vez mais pobres.

Eu sou funcionário público concursado, não dependo da CLT, não dependo da Previdência Social, mas essas DEformas me atingem. Porque tudo que atinge ao Outro (aos meus vizinhos, meus irmãos, meus filhos, meus netos...) me afeta.

Eu sou funcionário público concursado e essa greve é a minha greve também!

Dia 28 é GREVE!


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