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BANDEIRA BRANCA


Bandeira branca! Queremos paz!

Chega de feminismos! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! Desde sempre existiram apenas dois sexos: o masculino e o feminino. Desde sempre couberam aos machos as duras tarefas da caça e da preservação da espécie por meio da disseminação do sêmen; às fêmeas sempre coube o nobre papel de protetoras das crias e cuidadoras dos lares. Cada um com seu cada qual! Não é o suficiente?!?! Sim, é fato que durante o último carnaval, só no Rio de Janeiro (cenário do “maior espetáculo da Terra”), uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Também parece fato que o atual presidente da “maior potência do planeta” assumiu ter insistido no “sim” quando mulheres lhe tinham dito “não”. Mas são casos isolados. Ou melhor: a violência é um traço do caráter humano; não há nela nada de específico contra as mulheres!

Bandeira branca! Queremos paz!

Chega de ativismo LGBT! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! De novo, para ficar bem claro, desde sempre existiram apenas machos e fêmeas (essa coisa de “gênero” é invenção). Os casais se formam assim desde antes do grande dilúvio: para cada fêmea um só macho; para cada macho, toda e qualquer fêmea. Alguém discorda disso? OK! Que viva sua vida como quiser, desde que não fique por aí se beijando na rua, andando de mãos dadas, demonstrando afeto à toa, enfim, como se fosse uma pessoa normal (quer dizer: heterossexual). Se fosse assim, se esses “anormais” (que chamam a si mesmos de “minoria”) respeitassem mais a “maioria”, não haveria tanta violência contra meninos “afeminados”, não aconteceriam tantos homicídios de homossexuais, bissexuais, travestis... Aliás, até isso é invenção, porque, na verdade, esses são casos isolados: a violência é um traço do caráter humano; não há nela nada de específico contra os gays, os transexuais, nem contra as travestis.

Bandeira branca! Queremos paz!

Chega de falar em racismo! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! Desde sempre o mundo se dividiu, na verdade, entre vencedores e vencidos. Os melhores, os mais inteligentes, os mais adaptados são os vencedores; os demais são os vencidos. Isso explica a superioridade do continente europeu não só sobre o africano, mas também sobre o americano. Negros africanos e indígenas americanos sempre foram menos desenvolvidos intelectualmente. Existiram, é claro, os incas, os maias e os astecas nas Américas, com sua enorme produção artística, seu imenso conhecimento arquitetônico e agrícola; existiu, sem dúvida, a grande civilização egípcia, suas altas habilidades matemáticas e metalúrgicas, sua incrível tecnologia de transporte de cargas. Mas de que adiantou isso tudo? De nada, porque, no final das contas, vence sempre quem tem mais pólvora. Apologia à violência? Não: realidade dos fatos. Até porque a violência é um traço do caráter humano; não há nela nada de específico contra os indígenas nem contra os negros.

Bandeira branca! Queremos paz!

Chega de luta de classes! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! De novo, para ficar bem claro, desde sempre o mundo se dividiu, na verdade, entre vencedores e vencidos. Quem detém o capital adquire a matéria-prima, paga pela força de trabalho e pelos meios de produção, comercializa o bem produzido e administra a mais-valia. É o vencedor. Quem não tem capital não adquire matéria-prima, vende sua força de trabalho, mas não retém nenhuma parte da produção, não alcança a mais-valia, logo, fica sem nada. É o vencido. Administrando bem a mais-valia, o dono do capital pode transferi-la, por herança, a seus filhos, netos, bisnetos... Suportando o peso do nada que tem, quem não tem capital só pode transferir isso para seus herdeiros: nada. Sim, porque, na verdade, força de trabalho não é capital. Capital é capital, e quem não o detém, não é porque historicamente não tenha tido oportunidade de alcançá-lo; é porque não o merece, e devia se conformar com isso. Afinal, o mundo sempre foi assim: cada qual com seu cada qual. Determinismo? Violência? Não: realidade dos fatos. Até porque o determinismo e a violência são traços do caráter humano; não há neles nada de específico contra os pobres.

Bandeira branca! Queremos paz!

Chega de vitimismo! Basta de querer reformar o mundo, igualando aqueles que a natureza fez evidentemente diferentes! Abracemos todos a bandeira branca da paz! Sejamos todos homens, cisgêneros, europeus, ricos, divinamente marcados com a insígnia branca da pacífica superioridade natural! Não há por que querermos ser diferentes! O branco da bandeira, por si só e por sua natural superioridade, reúne todas as cores! Não há por que querer dividi-las novamente! A harmonia, a virtude, o sucesso, a riqueza, a paz, a felicidade, enfim, são brancas! E quem não pensa assim logicamente destoa, mancha o pacifismo superior da bandeira branca. Merece ser sufocado, calado, afastado, estuprado, torturado, exterminado... apagado.

           Tudo em nome da bandeira branca.

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