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Calmaria


Perdi 
as contas e ao final de tantas
desisti 
de entender: histórias escusas envolvem 
você.
Busquei as repostas de tudo
porquê;
foi tudo em vão,
na tempestade mais viva, fui barco 
à deriva,
sem remo ou timão. Foi tudo em vão,
o tentar resistir, o buscar 
compreender.

Mas com um sorriso você diz:
"Te amo!"
Um gesto, o carinho preciso,
profundo oceano, carisma e encanto,
um divino viço dissipa o engano...
A vida à volta é só calmaria
e a paz, gaivotando piruetas ao vento,
me beija no peito 
a flor que se abria prum novo dia,
um novo momento.

Abismo vencido, marujo atento
no mar infinito tem berço e chão;
cerrados os olhos, se entrega ao vento,
percebe que a vida é 
além da razão.

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